Manchete na Folha de São Paulo: “Papa apóia excomunhão dos políticos pró-aborto”. É pra rir gostoso. Sou de uma família católica. Minha avó, a pessoa mais reta que conheci, sempre me fez enxergar uma Igreja de fé e coração. Agora, vejo o revés da moeda.
O Papa não enxerga que sai perdendo. Aqueles que sempre mantiveram a Igreja fomos nós, homens dedicados, fervorosos, porém conscientes. Se ele não quer ou não é capaz de trazer a discussão para dentro da Igreja e argumentar como igual ao lado da Ciência e da Opinião Pública, se ela deseja expulsar os “hereges”, nós é que vamos expurgá-la da sociedade.
A discussão é válida. Se é verdade que ninguém pergunta ao concebido se quer nascer, ninguém pergunta à mãe se quer ser mãe. Ninguém, do mesmo modo, me perguntou se queria ser católico. E ser católico é uma vida. Deixar de ser demora outra. Discurso retrógrado, machista como sempre, através dos séculos, aceita qualquer maldade por parte dos homens, mas jamais uma atitude concernente à liberdade das mulheres. Excomunguem os assassinos! Excomunguem os homicidas! Excomunguem os papas genocidas do passado. Mas não me venham ensinar discernimento. O óbvio: é que o papa é homem.
Desse modo, finalmente encontrei um modo de arrancar o estigma de católico batizado e crismado, aluno fervoroso do Colégio São José, da Irmandade de Chamberry. Excomunguem-me! Porque não é a Igreja que vai estar me exilando para o Inferno, mas eu que vou exilá-la da minha vida.
Não sou favorável ao aborto, mas não posso aceitar que a Igreja ainda se considere acima de tudo e de todos, e que acredite piamente que vai conseguir aumentar sua influência através do medo. Funcionou na Idade Média: nunca mais. Se ela é incapaz de assumir uma posição flexível, não a queremos entre nós.
É ela que tem medo. Está há mais de um século enfraquecendo. Não quer aceitar seu lugar acessório, sua posição secundária no mundo e nas mentes. Se lhe damos um lugar ao lado da Ciência é por respeito aos grandes homens do passado – a alguns religiosos papas eu ofereço minha tristeza com o rumo atual das coisas –, porque ainda representa o cristianismo, ao qual ela raramente chegou aos pés com seus mantos suntuosos, suas matanças e suas excomunhões e, principalmente, porque o povo ainda precisa dela pra acreditar que a vida não é tão ruim assim – não, não sou socialista.
Não adianta excomungar-nos: pelo contrário, é o que queremos! Assim, quem sabe, mais pessoas capazes de raciocinar saberão que é hora de largar a Igreja aos vermes, para que se destrua, para que as rachaduras terminem por demolir o edifício.
Se ela acha que os pró-aborto são umidade nas paredes, estão enganados. Existem muitos católicos que querem acreditar numa Igreja nova, forte, cristã. Mas está podre. Fundada por Paulo – a Igreja insiste em mentir que foi Pedro –, só podia dar em merda.
Um comentário:
Dimas, pelo amor de Deus, deixe de chutar cachorro morto!
É exatamente o que ele quer.
Falem mal, mas falem de mim!
Se bem que é verdade: a memória do brasileiro é curta - o que não é diferente na Turquia e no México, como diz Clóvis Rossi em seu editorial de hoje na Folha, onde João Paulo II esteve, mas depois de toda comoção tudo continuou na mesma.
Sinto uma coceirinha, preciso dizer uma coisa boa: Brasil, tão perto de Deus e tão longe do papa!
Exceto hoje.
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